O projeto se viu envolto em polêmicos após empresas de telecomunicação alegarem que a localização da usina poderia afetar os cabos submarinos que conectam a internet de todo o Brasil e parte da América Latina. Diante da pressão das empresas, o governo cedeu e mudou de local.
Com a emissão da licença pela Semace, agora a Dessal do Ceará precisará obter ainda algumas permissões, como o alvará de construção que deve ser emitido pela Prefeitura de Fortaleza, e então as obras vão poder começar. A previsão é que, uma vez iniciadas, as obras terminem em dois anos.
Além do alvará, a empresa Águas de Fortaleza – vinculada à Cagece e que será responsável pela operação da usina – deve apresentar um projeto de canteiro de obras, que passará também pela aprovação da prefeitura.
A planta de dessalinização fará o tratamento da água do mar com a tecnologia de osmose reversa. — Foto: Cagece/Divulgação
Por fim, a Cagece ainda deve obter as licenças de instalação dos dutos da usina no terreno da praia. No Brasil, a faixa de areia é de propriedade da União, portanto o procedimento é resolvido junto à Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
O projeto da Dessal é capitaneado pela Cagece e vai utilizar a tecnologia de osmose reversa para tornar potável a água do mar. A usina deve ter capacidade de produção de água de 1 m³ por segundo (mil litros por segundo). Conforme o Governo do Ceará, o projeto vai ajudar a garantir a segurança hídrica no estado.
A localização da usina, porém, era motivo de oposição das empresas de telecomunicações ao projeto, que diziam que as estruturas da usina podem afetar os cabos e interromper o funcionamento da internet no Brasil.
A usina vai continuar localizada na Praia do Futuro, mas será instalada a mais de 1.000 metros do local que estava previsto, o que, conforme os responsáveis pelo projeto, vai afastar qualquer risco. A estrutura de captação das águas do mar também vai ser deslocada com a usina. A licença emitida agora pela Semace é justamente para o funcionamento neste novo local.
As obras da usina serão feitas por meio de parceria público-privada do consórcio SPE – Águas de Fortaleza, que venceu edital da Cagece com investimento previsto de R$ 3,2 bilhões.
Polêmica com o local da usina
Fortaleza é o ponto central dos cabos que abastecem a internet no Brasil — Foto: Globo/Reprodução
A localização da usina na Praia do Futuro era motivo de oposição das empresas de telecomunicações, que diziam que as estruturas da usina poderia afetar os cabos e interromper o funcionamento da internet no Brasil, causando um “apagão” de conexão no país.
A Praia do Futuro é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa e por isso é o lugar que primeiro recebe cabos de fibra ótica do continente. A partir da Praia do Futuro, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e países da América Latina. Esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados do Brasil.
O possível risco da instalação da usina, segundo a associação de operadoras TelComp, era que a estrutura da usina, que capta água no fundo do mar, possa romper os cabos submarinos. Se os cabos forem rompidos, o fornecimento de internet poderia ser afetado em todo o continente, deixando usuários off-line ou com internet lenta.
Ao longo de todo o imbróglio, a Cagece, empresa estatal do governo cearense responsável pela usina, defendeu que o projeto não apresentava nenhum risco ao funcionamento dos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro”.
Ao fim de meses de polêmica, em junho de 2024 o Governo do Estado cedeu e mudou a localização do projeto da usina, que continuou na Praia do Futuro, porém em uma posição mais afastada do ponto onde os cabos de internet convergem.
Após o anúncio da mudança de local, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) avaliou que o novo local de instalação de usina no Ceará não põe internet do país em risco. A mudança foi anunciada em junho do ano passado e, desde então, o projeto aguardava as licenças necessárias.
Projeto acumula atrasos e contratempos
A usina de dessalinização foi anunciada em 2017 pelo Governo do Ceará. Em agosto daquele ano, a Cagece lançou um edital para estudar a viabilidade do projeto. A ordem de construção, porém, só foi assinada pelo governo estadual em julho de 2021. A previsão era que a usina estivesse em funcionamento em 2025.
Usina para tirar sal da água do mar em Fortaleza deve ser construída na Praia do Futuro — Foto: Reprodução
Apesar destas aprovações recentes, o projeto tem sofrido oposição tanto das empresas de telecomunicações quanto da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A agência já emitiu uma recomendação contrária à instalação da usina na Praia do Futuro.
No fim de janeiro de 2024, o consórcio SPE solicitou à Semace a licença de instalação, que permite o início das obras. A área técnica tem até 180 dias para emitir ou não o documento, prazo que encerrava em julho de 2024. No entanto, a licença só outorgada agora, em setembro de 2025.
Inicialmente, a previsão era que as obras tivessem início em março de 2024, com prazo estimado de conclusão para o primeiro semestre de 2026. No entanto, com a emissão da licença de instalação emitida agora, a espera pelo alvará de construção e a previsão de dois anos de obra, o cronograma de construção da usina deve atrasar mais uma vez.
Como funciona a usina
A usina de dessalinização possui uma torre de captação e as tubulações que ficam dentro do mar, captando a água e enviando para a estrutura em terra. Uma vez lá, a água é bombeada para a planta de dessalinização, onde acontece a parte mais importante do processo.
Usina terá torre submersa para captar água do mar a 14 metros de profundidade — Foto: SPE Águas de Fortaleza/Reprodução
Conforme a Cagece, o equipamento vai utilizar tecnologia de osmose reversa para obtenção de água potável. Nesse processo, o sal é separado da água por meio da aplicação de uma pressão sobre o líquido. Funciona assim:
- Pré-tratamento: nesta etapa, a água do mar passa por um primeiro processo de filtragem.
- Osmose reversa: é a etapa mais importante do projeto. A água é pressionada contra membranas, que barram a passagem das moléculas de sais. Assim, duas soluções são criadas: solvente (água) de um lado, soluto (sal) do outro.
- Pós-tratamento: livre dos sais marinhos, a água recebe flúor e outros minerais, além de passar por desinfecção e correção do pH. Após essa etapa, a água está própria para consumo humano.
Depois destas etapas, a água potável é levada para o reservatório dentro da usina. De cada 2,3 mil litros que chegam do mar, apenas mil litros chegam como água potável até o fim do processo. Esta água, por sua vez, será encaminhada ao sistemas de abastecimento da Cagece.