Por Florence Lo e Eduardo Baptista
JIUQUAN, China (Reuters) – A China enviou três astronautas na quarta-feira (horário local) para sua estação espacial permanentemente habitada, onde vão conduzir dezenas de experimentos científicos, alguns relacionados à construção de habitats humanos.
A espaçonave Shenzhou-19 e sua tripulação decolaram a bordo de um foguete de longa marcha 2F do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no noroeste da China, 4h27 (horário local), segundo a mídia estatal.
‘Durante o voo da Shenzhou-19… serão realizados 86 experimentos de ciência e tecnologia espacial nas áreas de ciências da vida no espaço, física em microgravidade, materiais, medicina e novas tecnologias’, disse Lin Xiqiang, vice-diretor da Agência Espacial Tripulada da China (CMSA), em coletiva de imprensa na terça-feira.
Um desses experimentos deve envolver a exposição de tijolos feitos de solo lunar simulado às condições do espaço.
Caso os testes sejam bem-sucedidos, os tijolos poderão ser um material-chave para a construção de uma estação de pesquisa lunar permanente, que a China espera concluir até 2035, o que em teoria seria mais conveniente do que transportar materiais de construção da Terra.
Os tijolos serão enviados em um voo espacial de carga não tripulado separado para a tripulação da Shenzhou-19 no próximo mês.
Os voos tripulados da Shenzhou têm sido uma presença regular no programa espacial da China nas últimas duas décadas e aumentaram em frequência nos últimos anos, à medida que a China construiu e começou a operar sua estação espacial ‘Tiangong’, oficialmente concluída em novembro de 2022.
Desde o lançamento da Shenzhou-14 em junho de 2022, as missões Shenzhou têm envolvido trios de astronautas e estadias de seis meses no espaço, com um período de sobreposição de alguns dias, onde a tripulação que está partindo entrega a estação ao grupo recém-chegado. A tripulação da Shenzhou-19 deve retornar à Terra no próximo ano, em abril ou maio.
Lin destacou que dois dos três astronautas da Shenzhou-19 nasceram na década de 1990 e estão realizando seu primeiro voo espacial, sendo Wang Haoze a terceira mulher chinesa enviada ao espaço.
O líder da tripulação, Cai Yuzhe, de 48 anos, fez parte da tripulação da Shenzhou-14, que completou a construção da Tiangong. Fora da missão, todos os três membros da tripulação fazem parte da força aérea do Exército chinês.
À medida que a Tiangong se aproxima de seu segundo aniversário, o foco da China agora se volta para a meta de realizar um pouso tripulado na Lua até 2030. Em maio, a sonda lunar Chang’e-6 da China foi lançada da ilha de Hainan e retornou com sucesso um mês depois.
Embora a missão tenha sido não tripulada, sua conclusão fez da China o primeiro país a recuperar amostras do lado oculto da Lua.
O rápido desenvolvimento do programa espacial tripulado e não tripulado da China alarmou os Estados Unidos, que enfrentaram problemas recentes com seus próprios voos espaciais tripulados.
Dois astronautas da Nasa levados à Estação Espacial Internacional pela cápsula Starliner da Boeing em junho ficaram presos lá desde então, devido a imprevistos com o sistema de propulsão da espaçonave. A expectativa é que eles retornem em fevereiro de 2025 em uma espaçonave Crew Dragon da SpaceX.
Lin, da CMSA, disse na terça-feira que, para evitar problemas semelhantes, o plano de resposta a emergências foi ‘continuamente otimizado’ para que os astronautas tenham mais tempo para lidar com cenários como danos à Shenzhou-19 causados por detritos espaciais.
Lin acrescentou que a Shenzhou-20 e seu foguete transportador estão de prontidão e prontos para realizar uma missão de resgate de emergência, se necessário.
(Reportagem de Florence Lo em Jiuquan e Eduardo Baptista em Pequim)