Gisèle e Dominique ficaram casados por 50 anos. Segundo as investigações, a mulher foi drogada por pelo menos 10 anos. Ela só soube que estava sendo vítima do marido em 2020, quando o acusado foi preso por importunação sexual.
À época, Dominique foi flagrado filmando sob as saias de três mulheres em um supermercado. Gisèle foi chamada para prestar depoimento na polícia, e os agentes mostraram a ela imagens que foram encontradas no computador do marido.
As fotos e os vídeos mostravam Gisèle visivelmente inconsciente e sendo estuprada por estranhos dentro da própria casa. A polícia também descobriu conversas que Dominique tinha com homens pela internet, nas quais convidava os estranhos para ter relações sexuais com a esposa.
Gisèle Pélicot resolveu abrir mão do direito ao anonimato e tornou o caso público. Ela afirmou que fez isso para que nenhum outro caso como esse aconteça. Esse movimento fez com que ela se tornasse um ícone feminista e inspirou outras mulheres a denunciar agressores.
Os crimes
Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro — Foto: Reuters
De acordo com as investigações, Dominique pedia para que os homens não acordassem Gisèle. Além disso, os estupradores tiravam a roupa na cozinha, para evitar que elas fossem esquecidas no quarto do casal.
“Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro. Dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício”, disse Gisèle durante uma entrevista em setembro.
O processo aponta ainda que Dominique participava dos estupros e filmava os crimes. Ele não pedia dinheiro em troca. Ao longo de 10 anos, mais de 70 homens com idades entre 21 e 68 anos participaram dos estupros. Destes, 22 não foram identificados.
Alguns dos acusados afirmaram que não sabiam que a vítima estava drogada e alegaram que pensavam estar participando de uma fantasia sexual do casal.
Por outro lado, Dominique disse que todos sabiam que a mulher estava inconsciente.
O julgamento
Dominique Pelicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco — Foto: Benoit PEYRUCQ / AFP
O julgamento de Dominique Pelicot começou no dia 2 de setembro, em Avignon, no sul da França. Durante as audiências, Caroline, filha dele, também descobriu que o pai guardava fotos dela nua.
Segundo a imprensa local, ao saber das imagens, Caroline abandonou a sala de audiência tremendo e chorando. Ela foi amparada pelos dois irmãos e só retornou 20 minutos depois.
As fotos em questão foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta com o nome “Em volta da minha filha, nua”.
Outro caso que chamou a atenção durante as audiências foi o relato de Jean-Pierre Marechal, um amigo de Dominique. Ele disse que copiou o método usado pelo acusado para estuprar a esposa.
Durante o depoimento, Marechal afirmou que Dominique também estuprou a esposa dele. Ele disse estar arrependido do crime. O amigo do acusado também se tornou réu no caso, apesar de não ter abusado de Gisèle.
Sentença
Gisèle Pelicot deixando tribunal — Foto: REUTERS/Antony Paone
Na última audiência do julgamento, na segunda-feira (16), Dominique pediu perdão à família e disse que admirava a coragem que Gisèle teve para tornar o caso público.
“Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu”, disse.
A promotora Laure Chabaud pediu a pena máxima possível por estupro agravado. Se a Justiça acatar o pedido, Dominique pode ser condenado a 20 anos de prisão.
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro agravado. A promotoria pediu penas entre 10 e 18 anos de prisão para os investigados.
Os demais réus também tiveram oportunidade de falar no último dia de audiências. Alguns voltaram a pedir desculpas para Gisèle, enquanto outros negaram os crimes.