O crime aconteceu em 5 de maio, no bairro Genibaú, para o qual Silvio foi chamado sob o pretexto de receber uma quantia de R$ 4 mil referente a um pagamento. Ao chegar ao local combinado, porém, ele foi baleado pelos criminosos e morreu dentro do próprio veículo.
Informações iniciais apontam que a motivação do crime estaria relacionada ao fato de Silvio não ter conseguido a soltura de um integrante de facção criminosa. A investigação da Polícia Civil, no entanto, revelou um caso complexo de vingança, relacionado a um crime ocorrido em 2022.
Em XX, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou quatro pessoas pelo homicídio de Silvio. Uma delas é o advogado Lucas Arruda Rolim, de 33 anos, que trabalhava com a vítima. As investigações indicam que Lucas – já conhecido da Polícia por manter relações com o Comando Vermelho – teria ajudado Breno na execução do seu plano para matar o criminalista de 54 anos.
Trama planejada
Em abril deste ano, Francisco Carlos Barbosa, Francisco de Assis Silva e um adolescente foram capturados no terminal de ônibus do bairro Siqueira, quando se preparavam para assaltar um coletivo. Após a prisão, eles foram enviados para audiência de custódia.
Lá no juizado, eles descobriram que um advogado havia se apresentado como representante deles. O advogado conseguiu que Carlos Barbosa e Francisco de Assis fossem soltos com tornozeleira eletrônica. O advogado era Lucas de Arruda Rolim.
Conforme a investigação, nem os dois suspeitos nem os familiares dele sabiam quem havia pago pelos serviços de Lucas de Arruda Rolim. Mais tarde, descobririam que foi Breno Xavier, o “Blindado”. O criminoso considerado líder da facção criminosa na região dos bairros vizinhos de Genibaú (Fortaleza) e São Miguel (Caucaia), justamente onde Carlos Barbosa e Francisco de Assis viviam.
Posteriormente, a pedido de Breno e por intermédio de Lucas Rolim, Carlos Barbosa entrou em contato com Silvio, solicitando que ele o representasse na acusação e que o ajudasse a tirar a tornozeleira. Eles negociaram e Silvio teria cobrado R$ 4 mil para ajudá-lo.
O encontrou em maio. O advogado foi atraído até o bairro Genibaú – área dominada por Breno – para receber o dinheiro, após várias negativas do “cliente” de enviar o valor via Pix. Quando Silvio chegou ao local, porém, quem o aguardava era Breno, que disparou várias vezes no criminalista.
Advogado assassinado em Fortaleza foi atraído ao local do crime sob o pretexto de receber pagamento de R$ 4 mil. — Foto: Arnaldo Araújo/ SVM
Investigação de 2022 teria motivado crime
Em agosto de 2022, o personal trainer Felipe Lucena foi morto a tiros na saída de uma festa, já dentro do seu carro, na Praia do Futuro. Na mesma festa estava Breno Xavier, que conforme testemunhas, tinha uma rixa com Felipe.
De acordo com a investigação, no meio da festa Breno teria ordenado que dois homens, entre eles um identificado como Lucas Geová, viessem até a barraca de praia para matar Felipe. A dinâmica do crime foi descrita por uma testemunha que foi representada por Silvio Vieira.
O assassinato na barraca rendeu uma acusação de homicídio a Lucas Geová, como executor, e a Breno Xavier como mandante. Quando o processo começou a correr, Breno inclusive foi representado pelo advogado Lucas Rolim, que viria a trabalhar com Silvio.
Quase três anos depois, no momento da execução de Silvio, o relato de um dos criminosos é que as últimas palavras ditas por Silvio para Breno teriam sido “esquece, esquece”, no que o criminoso teria respondido: “Não dá para esquecer”, e atirou no criminalista.
Relação de advogados
Investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontaram na época que Lucas Rolim atuava na elaboração de planos de fuga para presidiários, tinha influência no tráfico de drogas e participava na logística delitiva da organização criminosa.
Lucas Arruda Rolim (à direita), de 33 anos, foi preso por suspeita de envolvimento na morte do conselheiro da OAB Silvio Vieira da Silva (à esquerda). — Foto: Reprodução
Antes disso, a polícia já havia apreendido na casa dele bilhetes que demonstraram que o advogado intermediava de forma frequente a comunicação entre membros da facção que estão presos e os que se encontram em liberdade.
Conforme a investigação, Silvio ajudou Lucas quando este foi preso com os bilhetes dos faccionados. O advogado mais velho teria representado o mais novo até que ele pudesse voltar a advogar. Quando foi autorizado a retomar seus trabalhos, Lucas passou a trabalhar com Silvio.
Prisões e denúncia
Ao longo das investigações, seis pessoas chegaram a ser presas pelo crime: Francisco Carlos Barbosa; Francisco de Assis; Pedro Guilherme Bandeira Lourenço, o “Lourim”, de 20 anos; Francisco Robert Teixeira de Mesquita, conhecido como “Itapajé”; e o advogado Lucas de Arruda Rolim.
Logo após o homicídio, Breno Xavier, o “Blindado”, foi para o Rio de Janeiro e está escondido em uma comunidade dominada pelo Comando Vermelho (CV). Há um mandado de prisão contra ele e o criminoso é considerado foragido.
Em agosto, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou quatro destes seis presos pelo homicídio de Silvio Vieira. O órgão afirmou que o processo corre em segredo de justiça e não detalhou quais dos suspeitos presos, além do advogado Lucas Rolim, foram denunciados.
O órgão denunciou o quarteto pelos seguintes crimes:
- homicídio quadruplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel, com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e com utilização de arma de fogo de uso restrito),
- integrar organização criminosa armada
- furto qualificado
Conforme o órgão, o assassinato de Silvio “foi uma tentativa de intimidar profissionais que atuam legitimamente dentro do sistema de justiça criminal, conduta que viola as bases do próprio funcionamento das instituições e atividades essenciais à Justiça, prejudicando o livre exercício da advocacia privada e ferindo princípios básicos do Estado Democrático de Direito”.
Chefe de facção teria planejado morte de advogado
Quem era a vítima
Formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o advogado Silvio Vieira era especializado em Direito Criminal e atuava como conselheiro seccional da OAB-CE para a gestão 2025-2027.
Silvio Vieira da Silva, de 54 anos, foi morto no bairro Genibaú, em Fortaleza. — Foto: Reprodução
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