A condenação no exterior pelo crime de perjúrio – o ato de mentir durante um procedimento oficial – é justamente por ter negado que respondia a um processo na Justiça brasileira e que já tinha sido preso antes. Após cumprir a pena na cadeia americana, o ex-policial militar está sujeito à deportação para o Brasil, onde deve cumprir a pena de prisão pela Chacina do Curió.
O ex-policial é natural de São Luís, no Maranhão, e atuava na Polícia Militar do Ceará. Ele e outros 44 policiais militares foram denunciados pela chacina em agosto de 2016 e acabaram presos preventivamente.
Em maio de 2017, ele foi solto para aguardar o julgamento em liberdade. Duas semanas depois, em junho de 2017, ele foi ao consulado americano em Recife (PE) e solicitou o visto de turista para entrar nos EUA.
Ex-policial Antônio José de Abreu durante prisão em agosto de 2023 por agentes do ICE, o serviço de imigração dos Estados Unidos — Foto: ICE
Durante o processo de solicitação do visto, quando perguntado se já havia sido preso ou denunciado por algum crime, Antônio José respondeu que não. Na ocasião, o visto do militar foi aprovado e ele viajou para os Estados Unidos em maio de 2018. Desde então, Antônio José não voltou ao Brasil.
Ainda conforme o Departamento de Justiça americano, em 2020 o ex-policial entrou com um pedido de asilo nos EUA e mentiu novamente quando questionado se já havia sido preso, acusado ou interrogado por algum crime em algum país. Ele mentiu novamente e disse que não.
Em fevereiro de 2024, o policial prestou depoimento à Corte de Imigração dos Estados Unidos e alegou que nunca mentiu para os oficiais migratórios, e que não falou do processo que respondia pela chacina porque ainda não havia sido condenado nem preso.
Em fevereiro de 2025, ele se declarou culpado pelo crime de perjúrio diante da Corte Federal do Distrito de Massachusetts, sediada em Boston. No último dia 29 de maio, Antônio José foi sentenciado a 16 meses de prisão.
Entre 2018 até 2023, enquanto esteve solto nos EUA, ele obteve carteira de motorista, cartão de seguridade social e autorização para trabalho. Em junho de 2023, porém, foi condenado no Brasil a 275 anos de prisão por participação na Chacina do Curió. No decorrer das investigações, ele foi considerado desertor da Polícia Militar por ter mudado de país, e acabou perdendo o cargo de policial.
Chacina do Curió
Condenados mais dois policiais militares do Ceará pela Chacina do Curió
Segundo o Ministério Público do Ceará, os crimes foram motivados por vingança pela morte do soldado Valtemberg Chaves Serpa, assassinado horas antes ao proteger a mulher em uma tentativa de assalto, no Bairro Lagoa Redonda.
Familiares homenageiam vítimas da chacina do Curió, em Fortaleza, que resultou na morte de 11 pessoas — Foto: Fabiane de Paula/SVM
Os policiais militares condenados são:
- Marcus Vinícius Sousa da Costa: 275 anos e 11 meses de prisão. As penas correspondem a 11 homicídios, 3 tentativas de homicídio, 4 crimes de tortura física e mental. Prisão em regime fechado de imediato sem direito de responder em liberdade e perda do cargo de policial militar.
- Antônio José de Abreu Vidal Filho: 275 anos e 11 meses de prisão por 11 homicídios, 3 tentativas de homicídio, 4 crimes de tortura física e mental. Prisão em regime fechado de imediato sem direito de responder em liberdade e perda do cargo de policial militar. Agora, foi condenado a prisão nos Estados Unidos por perjúrio.
- Wellington Veras Chagas: 275 anos e 11 meses de prisão por 11 homicídios, 3 tentativas de homicídio, 4 crimes de tortura física e mental. Prisão em regime fechado de imediato sem direito de responder em liberdade e perda do cargo de policial militar.
- Ideraldo Amâncio: 275 anos e 11 meses de prisão por 11 homicídios, 3 tentativas de homicídio, 4 crimes de tortura física e mental. Prisão em regime fechado de imediato sem direito de responder em liberdade e perda do cargo de policial militar.
- José Oliveira do Nascimento: 210 anos e nove meses de prisão por 18 crimes, entre eles, homicídio, tentativa de homicídio e tortura.
- José Wagner Silva de Souza: 13 anos e cinco meses por tortura.
Foram absolvidos dos crimes:
- Francinildo José da Silva Nascimento
- Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes
- Gerson Vitoriano Carvalho
- José Haroldo Uchoa Gomes
- Josiel Silveira Gomes
- Ronaldo da Silva Lima
- Thiago Aurélio de Souza Augusto
- Thiago Veríssimo Andrade Batista de Moraes
- Antônio Carlos Matos Marçal
- Antônio Flauber de Melo Brazil
- Clênio Silva da Costa
- Francisco Helder de Sousa Filho
- Igor Bethoven Sousa de Oliveira
- Maria Bárbara Moreira
- Antônio Carlos Matos Marçal foi absolvido dos crimes julgados no Tribunal de Justiça, mas teve parte do processo encaminhado para a Justiça Militar, que deve realizar um novo julgamento
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