O livro, intitulado “A importância de estudar e os fatores que podem levar ao abandono escolar”, foi feito por uma turma de 35 alunos de ensino médio, com supervisão do professor de história, Raphael Cloux.
Após a publicação, a obra foi enviada ao gabinete pessoal de Lula, presidente do Brasil, e também à sede da Biblioteca do Congresso, através da editora responsável pela publicação, Kawo-Kabiyesile. O livro foi publicado por um financiamento articulado pelo próprio professor com a editora, sem receber repasses públicos.
“O projeto foi lindo, todo mundo ajudou. A gente fez pesquisa e pôde ver que, hoje em dia, são vários fatores que realmente levam ao abandono escolar. As pessoas desistem de estudar por conta de vários fatores”, declarou uma das alunas-autoras, Samia Gonçalves.
O livro foi publicado no fim de 2023, feito pela turma de formandos da escola, que começou a produção quando ainda estavam no 1º ano do ensino médio. Em 2024, a obra foi enviada à Biblioteca do Congresso.
O livro foi publicado no fim de 2023, feito pela turma de formandos da escola, em Amontada, no Ceará. — Foto: Arquivo pessoal
O professor Raphael Cloux, que coordenou o projeto, disse que a ideia do livro surgiu após perceber a realidade em que a escola e os alunos estavam inseridos. A unidade escolar fica na zona rural de Amontada, onde a maioria dos alunos são filhos de agricultores.
“Eu fui conhecendo bastante a realidade dos alunos e vendo muita dificuldade no processo da escrita. Eu assumi como diretor de turma dessa turma e eu fiquei pensando em algumas estratégias que eu poderia bolar para estimular a escrita desses meninos que futuramente iriam fazer o Enem”, explicou o professor.
“[Os alunos] não tinham muita base de escrita. Então, a partir daí veio a ideia de produzir um livro. Nós não escolhemos qualquer tema. Escolhemos um tema que toca muito diretamente nesses meninos e meninas que é a evasão, o abandono escolar”, destacou o professor.
Raphael disse ainda que os próprios alunos foram identificando quais eram os problemas relacionados à evasão. “Então, foi lento o processo, não foi tão rápido, para despertar neles a compreensão da realidade deles e dos fatores que poderiam fazer com que algum deles fosse exatamente vítima desse processo”, complementou.
Linguagem acessível
O professor disse que, entre os vários estilos de texto possíveis, escolheu a redação, pois ajudaria também na preparação dos alunos para o vestibular. No entanto, outra linguagem também foi abordada no livro: o desenho. E o motivo foi ampliar (e ao mesmo tempo aproximar) o público-alvo da publicação.
“Muitos pais desses meninos não sabem ler. Eles são analfabetos funcionais. A nossa realidade na zona rural é essa. Os pais deles, a grande maioria, pode se dizer que 60%, são analfabetos funcionais. Então, a ideia também foi que o livro ficasse acessível para os familiares deles”, explicou Raphael.
“Para que os familiares também conseguissem entender, a partir de uma outra expressão que não fosse somente o texto, o que está na cabeça deles, o que eles pensam e no que eles estão refletindo.
— Raphael Cloux, professor de história.
“Para que os familiares também conseguissem entender, a partir de uma outra expressão que não fosse somente o texto, o que está na cabeça deles, o que eles pensam e no que eles estão refletindo”, complementou o professor.
Fazer as famílias de alunos entenderem o problema da evasão escolar ganha força especialmente quando o país vive um cenário em 8,8 milhões de brasileiros de 18 a 29 anos não terminaram o ensino médio e não frequentam nenhuma instituição de educação básica, segundo informações coletadas pela PNAD Contínua. Considerando todas as faixas etárias, são 68.036.330 cidadãos sem a escolarização básica no país.
E os problemas, que causam a evasão escolar, foram elencados pelos próprios alunos — olhando para as próprias realidades. “O tema tocou muito para eles, porque quando a gente vai ver quais são os motivos que podem levar ao abandono, a gente entra nos problemas da sociedade”, comentou Raphael.
“A gravidez na adolescência, o consumo exacerbado de drogas, o tráfico de drogas, ter de trabalhar para poder sustentar, ajudar a sustentar a família. Tem depressão, automutilação, ansiedade. Então, assim, são temas que tocaram muito eles e alguns, inclusive, vivenciaram, algum desses elementos, ou viram seus familiares abandonarem a escola por conta de um desses motivos”, complementou o professor de história.
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